Battlefield 1 chegou trazendo a fórmula que deu a franquia o sucesso que tem e moderniza o modelo para algo ainda mais intenso e teatral, com o pano de fundo da Primeira Guerra Mundial. A história de Battlefield 1 em sua campanha solo é uma pequena mas agradável experiência, que apresenta com qualidade o potencial tecnológico das tropas durante a guerra e também traz histórias que humanizam muito bem os personagens.
No entanto, é no modo multi-player que está seu verdadeiro potencial. O jogo online explora de forma excelente os diferentes arsenais da época, trazendo pequenas mudanças que tornaram o combate mais equilibrado e estratégico, sem perder a adrenalina e o caso que tornaram Battlefield em uma das mais populares franquias de tiro em primeira pessoa.
A franquia já não é conhecida pelo seu modo single-player há muito tempo, na verdade. Apesar disso, o modo single-player de Battlefield 1 é uma novidade refrescante. A forma em que a história se desenrola, equilibrando momentos de identificação com momentos de tragédia, ajuda a humanizar a imagem da guerra e das pessoas que a lutaram. Alguns objetivos simples demais acabam fazendo ela perder um pouco este status “épico” e por ser curta, acaba não sendo uma experiência tão memorável como tinha o potencial de ser. Ainda assim, o fato de você experimentar de todas as mecânicas do jogo – desde resgatar pessoas a guerra entre veículos – fazem da campanha um excelente campo de teste para o verdadeiro desafio do multi-player.
O jogo também foi bem inteligente em sua estruturação. Ao invés de se restringir a um local, momento e personagem específicos, a abordagem de Battlefield 1 nos permite tocar em algumas tramas da guerra pouco conhecidas, que construíram aos poucos o enorme pesadelo mundial que a guerra se tornou. O jogo possui uma introdução curta e cinco diferentes histórias que te levam a locais totalmente distintos – dos desertos quentes no norte da África até os enlamaçados campos do fronte ocidental. As histórias não só te levam a diferentes lugares, mas a diferentes situações também.
A campanha de Battlefield 1
Levando cada uma cerca de trinta minutos a uma hora para serem concluídas, naturalmente as histórias acabam não permitindo que exploremos muito a fundo as delicadas relações políticas da grande guerra, o que acaba sendo uma perda. Ainda assim, a forma que as histórias são apresentadas e desenvolvidas tornam as histórias interessantes, e longe de parecerem vazias ou superficiais. No fim das contas, Battlefield 1 parece buscar contar as histórias das pessoas que lutaram naquela guerra, ao invés de uma aula de história. E este trabalho eles fizeram muito bem.
Dando aqui um certo spoiler – adiantando que valerá a leitura – a primeira missão que você pega em Battlefiel 1 é a Tempestade de Aço. Nela você assume o papel de vários membros da infantaria 369 dos Estados Unidos, um regimento composto apenas por negros e conhecido popularmente como os Harlem Hellfighters. Na medida que você e seus companheiros lutam desesperadamente para forçar as forças alemãs a recuarem, você se deparará com a morte diversas vezes, muitas delas não serão sequer culpa sua. Se você jogar muito bem, a morte pode até ser forçada em você eventualmente, pois ela é parte do roteiro.
Enquanto esta missão é excelente para apresentar ao novo jogador as mecânicas básicas de Battlefield 1 como mirar, atirar, recarregar a arma, entre outras, ela também traz o peso da guerra consigo, te colocando em um lugar onde claramente ninguém está seguro. Esta é uma campanha trágica (apesar de não chegar nem perto de mostrar todos os horrores daquela guerra) mas ainda assim é um olhar muito mais realista se comparado aos excessos de patriotismo vistos em outros jogos da categoria. Battlefield 1 consegue capturar a essência da guerra e das batalhas sem parecer ingênuo ou glorificador. Cada uma das pequenas histórias são gigantes em seus próprios sentidos.
A primeira missão da história, na verdade, é a que mais deixa a dever neste sentido. A enorme diferença entre ela e as seguintes te leva até a questionar porque os desenvolvedores decidiram deixar logo ela como a introdução de Battlefield 1 para os jogadores. Mas para ser sincero, essa resposta não é difícil de imaginar. Nesta missão você é Daniel Edwards, um jovem e inexperiente soldado inglês em uma unidade com um tanque para atravessar as linhas alemãs em Cambrai, na França. Esta história é uma que parece gerar uma familiarização forte com qualquer jogador de outros jogos de tiro – algo bem mais familiar do que as histórias seguintes.
Não é que a história seja ruim, mas seu personagem é um tanto “sem graça” (e sua história também). Sair capturando pontos de controle ao longo do caminho para Cambrai serve como um bom treinamento para um dos modos mais populares do modo multi-player de Battlefield 1, a Conquista. Além disso, ele também vale como um bom treinamento em operar tanques, mas em nível de história ela é certamente a mais rasa.
Edwards é o clássico clichê do soldado despreparado e se desdobrando para manejar a gigante máquina de guerra e que de repente, se torna literalmente em um exército de um homem só para realizar a missão de sua unidade: ir à pé para investigar acampamentos inimigos, lutar contra infantarias inimigas enquanto seu tanque é reparado e finalmente, segurando uma onda de veículos inimigos vindo contra você. Não que a pilotagem do tanque (em sua lentíssima velocidade) não seja divertida, mas a missão acaba sendo um tanto cansativa e gera pouco apego aos personagens da história.
Outras missões de Battlefield 1 trazem histórias muito mais convincentes, mas alguns pequenos erros no caminho também. Em um certo momento você irá pilotar um pombo-correio levando uma informação a outra unidade. Esta missão que deveria ser uma diversão à parte, acaba se tornando uma certa piada desanimadora graças aos controles confusos, câmera em ângulos ruins e bugs gerais, como colidir com um prédio e passar direto através dele, por exemplo. A princípio, você pode até imaginar que este segmento foi criado para te ensinar a pilotar aeronaves, mas isso virá depois.
No segundo nível de Battlefield 1, que já é consideravelmente melhor que o primeiro, você já irá passar a maior parte do seu tempo como um arrogante piloto americano que se infiltrou nas Forças Aéreas Reais Britânicas só para ter a chance de pilotar um Bristol F2. Voar em qualquer aeronave, seja em single-player ou multi-player, é uma experiência à parte. Elas tem controles excelentes e cortam pelo ar com total facilidade e precisão.
Enquanto o problemático piloto americano narra suas travessuras para seu copiloto inglês, você estará atravessando os céus derrubando aviões alemães, levando eles a colidir em total velocidade e ainda encontrar tempo para voar baixo e bombardear os caminhões antiaéreos no chão. Essa missão fica ainda melhor depois que você pousa o avião após este caos aéreo. Você poderá jogar este trecho de diversas formas. Você pode avançar silenciosamente pelas trincheiras usando sua faca como ferramenta principal, ou pode entrar com tudo atirando se preferir. Todos os mapas do modo single-player são grandes e abertos o suficiente para te permitir diversas abordagens a cada obstáculo, sem perder o desafio ou deixar brechas que facilitem demais.
A abordagem silenciosa só se torna possível em Battlefield 1 graças à habilidade de jogar cápsulas de balas em locais distantes para confundir e distrair os inimigos, e é facilitada pela inteligência artificial mal planejada que acaba tornando muito fácil correr de um ponto a outro sem ser visto. Jogadores de clássicos como Far Cry 5, por exemplo, certamente gostarão de explorar essa possibilidade. Quanto à abordagem de “meter o louco” e chegar pra lutar como o Rambo, você precisa ter algumas coisas em mente. Sua munição é extremamente limitada, mas você irá encontrar caixas com armas e munição frequentemente, e sempre poderá pegar armas de inimigos que matou também.
Na avaliação do Gorila, esta abordagem foi certamente a melhor. Battlefield 1, assim como seus antecessores na franquia, são é um jogo feito para abordagens silenciosas. Ter a oportunidade de experimentar o caos da I Guerra Mundial com armas da época e precisar seguir se adaptando conforme a disponibilidade de armas e munição aparece, é o motivo pelo qual o jogo foi feito.
Os níveis seguintes de Battlefield 1 conseguem manter, assim como os primeiros, o equilíbrio entre tornar a guerra divertida e ao mesmo tempo, agonizante. Sua aventura como um soldado italiano de elite desbravando as fortalezas inimigas para salvar seu irmão é recontada com grande pesar de um pai para uma filha. No último, e talvez mais prazeroso dos níveis, você assume o papel de uma rebelde beduína que luta pela liberade dos otomanos. Cada personagem em cada uma destas histórias está lutando por algo muito menor do que uma Guerra Mundial. Cada um tem seus próprios objetivos a cumprir em meio a todo aquele caos e Battlefield 1 consegue entregar cada um deles com maestria.
No geral, a campanha single-player de Battlefield 1 é uma ótima série de pequenas aventuras com alguns pontos bem memoráveis, mas serve principalmente como um tutorial para cada veículo, classe de soldado e armas que você irá utilizar no (muito mais interessante) modo multi-player.
O multi-player de Battefield 1
Battlefield 1 já se diferencia de seus antecessores de imediato na utilização de armas da I Guerra Mundial. Enquanto o arsenal de Battlefield 4 sofria pelo excesso de armas muito similares e a infinidade de upgrades disponíveis, a coleção do novo título já envolve armas bem diferentes entre si e customizáveis a um nível mais sensato. O estilo antigo de todas elas também fazem grande parte na construção do jogo com vários jogadores.
O especial de Battlefield 1 neste arsenal arcaico é exatamente deixar pouco a dever se comparado aos jogos baseados em conflitos mais atuais. Se você tem uma arma de assalto como a metralhadora MP 18, por exemplo, você terá a opção de personalizar ela com uma mira ótica altamente improvisada, como uma lente de vidro com um ponto vermelho pintado, o que não deixa de ser um upgrade considerável em relação à mira que tinha antes.
Enquanto a tecnologia da época ainda não conseguia solucionar alguns problemas como o violento coice das armas ou aprimoramentos na mira, você terá que fazer algumas experiências e ir se familiarizando aos poucos com suas armas para conseguir os resultados que deseja. Cada arma tem suas fraquezas e forças, e explorar cada uma delas será fundamental no modo multi-player. Afinal de contas, seus oponentes certamente exploraram.
A grande maioria das armas em Battlefield 1 são muito imprecisas se você atirar descontroladamente, e como você precisará causar muito mais dano aos oponentes do que em jogos anteriores da franquia, você precisará de fato desenvolver sua habilidade com determinadas armas. Atirar freneticamente aqui não te trará nenhum resultado. os rifles semi-automáticos, por exemplo, possuem um pequeno coice a cada tiro que você dá. Se você tentar atirar demais contra um oponente, irá acertar apenas o primeiro tiro – se é que vai acertá-lo. Por outro lado, se você for paciente, rastrear a posição do inimigo e atirar em pequenas doses bem acertadas, você irá pegar seu alvo em todas as investidas.
Assim como as armas, os equipamentos que você terá disponíveis também estão sujeitos ao tempo. Ao invés de ter um médico super equipado como nos títulos anteriores, você terá um médico com uma grande seringa. O gás de mostarda que é uma arma química usada na guerra, também tem suas características interessantes para eliminar grupos em pequenas áreas e fazer uma fuga silenciosa se necessário. Além disso, ele será essencial para confundir inimigos em postos de telégrafos e atrasar oponentes que precisam desarmar bombas.
Os veículos estão mais divertidos do que nunca. Enquanto em Battlefield 4 você tem um engenheiro capaz de criar uma bazuca em campo e destruir veículos com facilidade, em Battlefield 1 você também está sujeito à arcaica tecnologia do início do século XX. Você precisará ser inteligente e planejar bem qualquer ataque contra veículos; raramente você poderá destruir um sozinho.
Considerações finais
Battlefield 1 faz um excelente trabalho em trazer as fantásticas mecânicas da franquia para o universo da primeira guerra. Isso trouxe para o jogo não só aspectos visuais totalmente novos, como também trouxe outros modos de jogo que foram muito bem recebidos pelos fãs e trouxe dinâmicas, até então, totalmente novas à série. Quer você seja um iniciante nos jogos de tiro em primeira pessoa ou um veterano, Battlefield 1 conseguirá agradá-lo com certeza.