Dark Souls 3 foi lançado pela FromSoftware em um período onde a produtora já havia lançado por dois anos seguidos excelentes RPGs, sendo estes Dark Souls 2 em 2014 e Bloodborne em 2015. Dark Souls 3 veio em 2016 gerando uma pergunta importante na cabeça dos fãs: é possível uma empresa conseguir lançar um RPG rico, profundo e cheio de possibilidades e imersão todo ano? A resposta não é tão simples.
Quando você compara os prazos trabalhados por outras empresas focadas em jogos de RPGs como a Bethesda, por exemplo, você já percebe uma enorme discrepância. The Elder Scrolls V: Skyrim foi lançado em 2011 e é considerado até hoje um dos melhores RPGs já criados. Enquanto isso, The Elder Scrolls VI já segue por 10 anos de espera e sem data definida para lançamento.
Quando paramos para analisar o nível de complexidade de The Elder Scrolls V: Skyrim, é fácil entender o motivo de tanta demora. A imersão do game é fantástica, permitindo ao jogador que comece novos jogos e tenha experiências totalmente novas em cada um deles. Além disso, o enorme mapa e a infinidade de missões, NPCs, itens secretos e etc. tornam a experiência de Skyrim quase que infinita.
Pelo terceiro ano consecutivo, A FromSoftware conseguiu o feito, entregando em Dark Souls 3 uma experiência complexa e fascinante. No entanto, ele vêm carregado de falhas e fraquezas muito mais visíveis do que nos títulos anteriores. Entenda que Dark Souls 3 não é exatamente um fracasso, mas também está longe de ser a experiência imersiva e rica de tantos outros títulos.
Jogando Dark Souls 3
Assim como os títulos anteriores da franquia, Dark Souls 3 conta uma intrigante história. Você assume o papel de um Unkindled, um herói “morto-vivo” amaldiçoado a vagar pela terra de Lothric. O mundo está a beira de um apocalipse das trevas e a única esperança é caçar e matar os violentos e caóticos Lords de Cinder. A história é contada pouco a pouco em pequenas doses de texto ao longo de sua trajetória. Jogadores que não tenham interesse na história conseguem jogar sem ter que se envolver demais, enquanto jogadores mais imersivos ficarão satisfeitos em como Dark Souls 3 integra sua história aos títulos anteriores da franquia.
Você começa o jogo selecionando um dentre vários presets de personagens. Cada classe tem seu status inicial único, que dá a ela alguma vantagem sobre as demais classes logo de início. Cavaleiros possuem mais força enquanto magos possuem mais inteligência, por exemplo. Na medida em que você sobe de nível você pode aumentar seus status à vontade, portanto você pode tanto compensar pelas desvantagens de sua classe, como fortalecer ainda mais suas vantagens como preferir. Se você já começou o jogo com um tipo de armamento em mente, investir na vantagem de sua classe será mais vantajoso e permitirá que avance mais rápido do que buscando o equilíbrio.
Os ambientes de Dark Souls 3 são recheados de equipamentos e itens consumíveis. Além das clássicas poções de Estus (que são na franquia a poção de cura), você também encontra poções para melhorar sua defesa, facas, bombas de jogo, machados e todo tipo de tralhas pelos estágios do jogo. Novas armas e armaduras também podem ser encontradas nestas áreas, mas estas estão geralmente escondidas em cantos muitas vezes protegidos por inimigos.
Nem todo equipamento é igual, portanto nem sempre uma nova espada que você encontrar será melhor do que a que já possui, por exemplo. No começo do jogo você já irá batalhar com um poderoso guerreiro com uma espada samurai que você pode obter após derrotá-lo. Apesar da grande ameaça que o guerreiro apresenta, sua espada é pior do que a que você encontra pouco antes em um corpo já falecido em seu caminho.
É uma fórmula familiar e te coloca exatamente onde a franquia sempre colocou, explorando um gigantesco mundo e batalhando com todo tipo de inimigos. Quanto aos inimigos, a FromSoftware recebeu uma série de críticas em Dark Souls 2 sobre os inimigos serem muito mundanos e semelhantes. Este erro, eles já corrigiram aqui. Dark Souls 3 traz uma série de inimigos atípicos e não-humanos para agitar a história. Até mesmo quando os oponentes são aparentemente humanos, eles são mais inteligentes e exigem mais do jogador do que em qualquer outro título da franquia.
A franquia de Dark Souls é conhecida por ser desafiadora nos combates, e Dark Souls 3 certamente já ganha o primeiro lugar neste quesito. Muitos dos chefões do jogo estão entre os mais difíceis já encontrados, no tipo de encontro que você fica tenso e temeroso, exigindo muita técnica para serem derrotados. O primeiro par de chefes do jogo já é capaz de te levar a um Rage Quit. No entanto, a maioria dos inimigos seguem padrões facilmente identificáveis, de modo que com algum tempo analisando seus movimentos, você já será capaz de utilizar todas as brechas a seu favor.
O reino de Lothric está em péssimas condições na história, com bestas das trevas, dragões e aterrorizantes demônios corrompendo toda a paisagem gótica do reino. As mecânicas de combate melhoradas aumentaram bem a complexidade dos combates, mas isso também faz com que seja mais difícil dominar todos os recursos e com isso, o jogo está mais difícil que nunca.
A desenvolvedora da franquia também acrescentou novos recursos para facilitar as batalhas constantemente mais desafiadoras. Em especial, cada arma em Dark Souls 3 possui uma “habilidade da arma”, um ataque especial que pode ser tanto um poderoso ataque contra um inimigo como também um aumento em sua força ou até mesmo uma magia como uma bola de fogo, por exemplo. Estas novas opções acrescentam uma nova camada de complexidade aos combates, que podem ser abordados agora de formas totalmente diferentes.
Outro fator que foi incluído e impacta diretamente na dinâmica dos combates são os pontos de foco. Estes pontos operam de forma semelhante a pontos de mágica em outros RPGs, e aqui eles são usados de fato para usar magias. Com isso, os jogadores agora possuem mais um recurso para gerenciar entre checkpoints, mais um pontinho na já complexa mecânica de combate de Dark Souls 3.
Estes novos recursos, para jogadores mais antigos, podem até serem deixados para trás pois não são exatamente necessários para seu avanço. Ainda assim, é interessante conhecê-los e dominá-los para ganhar mais controle sobre qualquer situação de perigo. Além disso, eles tendem a deixar mais dinâmicos os encontros entre jogadores reais, dando mais possibilidades do que precisar ser apenas o mais rápido ou o mais forte.
Uma dinâmica interessante e nova é a possibilidade de se curar pelos métodos tradicionais ou também pelo custo de seus pontos de foco. Neste caso, precisará restaurar seus pontos de foco depois, tornando a decisão um pouco mais delicada e trazendo um dilema que o jogo até então nunca havia nos apresentado.
Dark Souls 3 também aprendeu algumas lições com seu irmão do terror, Bloodborne. Enquanto jogadores ainda podem se esconder atrás de um escudo se desejar, tanto os inimigos quanto o jogador agora se movem mais rápido do que em Dark Souls ou Dark Souls 2. Aprender a esquivar é agora mais necessário. Além disso, os lapsos de invincibilidade que seu personagem tem passam a ter ainda mais valor. Tudo isso soma para um combate mais dinâmico que continua tão desafiador como sempre.
Além da influência óbvia de Bloodborne, Dark Souls 3 também trouxe muitas melhorias de Dark Souls 2 para a mesa. Anéis podem te dar poderosas vantagens e você pode equipar até quatro deles, assim como em Dark Souls 2. Você poderá alternar entre três combinações de armas e escudos e as mecânicas da armadura e seu peso funcionam como em seu antecessor também, de modo que você pode se esquivar efetivamente se utilizar menos que 70% do seu total de equipamento possível.
O sistema que quebrar a guarda inimiga também é idêntico ao de Dark Souls 2, portanto quebrar a guarda de seu oponente te dá a possibilidade de emendar um poderoso contra ataque.
Os problemas de Dark Souls 3
Quem dera este dinamismo acrescido às batalhas se aplicasse ao mundo de Dark Souls 3 como um todo. Dark Souls 2 gerou algumas críticas em como seu mundo muda de uma área para outra de forma disforme, sem fazer nenhuma lógica ou sentido geográfico. Em alguns pontos, pode se dizer que Dark Souls 3 é exatamente o oposto disso em resposta às críticas, mas nem tudo nesta mudança foi positivo.
Ele é lógico a ponto de cometer um erro: os lugares são tão lógicos que você sente que não está indo a nenhum lugar interessante. A maior parte do seu tempo em Dark Souls 3 será gasta em castelos ou nas passagens de pedra das vilas construídas embaixo dos castelos. Você encontrará um pântano, algumas catacumbas, mas nada novo. Certamente ninguém esperava um jogo totalmente novo, mas a falta de qualquer novidade é decepcionante.
As áreas de Dark Souls 3 são conectadas, mas não estão entrelaçadas como nos demais títulos da franquia. Pelo contrário: cada área leva diretamente à próxima, fazendo uma trajetória totalmente linear, lembrando até mesmo arcades como os primeiros títulos de Castlevania, por exemplo. Há muitos atalhos e segredos espalhados por cada área, mas há um forte sentimento de deslocamento no ar.
Com isso Dark Souls 3 acaba se aproximando mais de um “trem fantasma” em um parque de diversões do que com um mundo grande e aberto. Cada área te leva a uma nova. Você passa um castelo infestado de dragões e corta para uma floresta, que corta para um vilarejo, que corta para um pântano, e daí em diante.
Este design totalmente linear é um dos pontos mais decepcionantes de Dark Souls 3. Tanto em Dark Souls quanto em Dark Souls 2 e Bloodborne você começa o jogo em um espaço limitado que pouco a pouco vai crescendo e se tornando mais completo e rico. Com isso, você começa com um único caminho a seguir mas na medida que avança, vai tendo novas escolhas que terão mais impacto em seu caminho até que chega ao ponto de estar com um jogo que só você criou daquela forma, naquela sequência de decisões.
Já em Dark Souls 3, o tempo todo você se depara com um ou no máximo dois caminhos para seguir a todo o tempo. A maior parte dos caminhos secundários que você explorar dará em algo extremamente curto e sem nada interessante. Você nunca se sente perdido ou sobrecarregado pelo gigantesco mundo à sua frente. Esta era uma marca da franquia que foi perdida no novo título.
O design dos níveis também acaba sendo decepcionante, dando a sensação de não terem sido realmente planejados. Nos títulos anteriores da franquia, encontrar uma fogueira para descansar ou um atalho secreto te dá uma sensação de vitória fantástica pois eles sempre estão posicionados em locais extremamente estratégicos. Em Dark Souls 3 você acaba se decepcionando com estas descobertas a todo o tempo. A maior parte dos atalhos, por exemplo, são muito curtos e não te dão uma verdadeira vantagem por tê-lo encontrado. Com isso, você perde o encanto de buscar por estes easter eggs no caminho.
Em um momento do jogo por exemplo, é possível derrotar um poderoso chefe que irá te presentear com uma fogueira para descansar em sua sala. Após descansar e sair do local, em menos de um minuto (e ainda com a fogueira à vista) você encontra… outra fogueira. Logo após esta fogueira você se depara com uma porta trancada. Enquanto outros jogos da série te forçariam a procurar por esta chave em algum canto obscuro e talvez até batalhar com algum mini-chefe, aqui a chave está em um corpo caído exatamente de frente à porta. Uma descoberta como esta é basicamente irrelevante para o jogo, e para o jogador.
Não é que Dark Souls 3 seja intocado por segredos. Há vários que são mais fáceis e outros mais difíceis de encontrar, mas comparado a títulos anteriores da franquia ou outros RPGs como Skyrim, por exemplo, é impossível não ficar pelo menos um pouco decepcionado com o caminho tão linear que Dark Souls 3 oferece.
Considerações finais
Agora você já sabe bem o que esperar de Dark Souls 3 caso ainda não tenha jogado. Se já jogou, concorda com as pontuações? Sua expectativa pessoal com o jogo tem um papel essencial em seu nível de divertimento. Se você joga estes jogos pelo combate intenso e comandos rápidos, além de investir nas invasões dos mundos de outros jogadores, Dark Souls 3 tem muito a te entregar e com certeza, atenderá ao que procura.
Agora se você busca uma experiência realmente imersiva, diferentes caminhos para diferentes decisões, mundos interessantes e missões de diversas formas, o jogo provavelmente irá te decepcionar.
_______
Curte RPGs com muita violência? Confira nossas dicas exclusivas para Fallout 4!