Legends of Runeterra foi lançado em 2020 pela Riot Games e já alcança números extraordinários de downloads, provando que já foi aceito pelos fãs de games mobile como um título a ser considerado. O jogo foi inspirado e se passa no mesmo universo de um grande sucesso da produtora: League of Legends.
Sid Meier, o criador da fantástica série Civilization tem uma famosa frase onde diz que “Jogos são uma série de decisões interessantes”. Curiosamente, Legends of Runeterra foge bastante do que Sid Meier disse. O jogo não possui decisões interessantes em quase momento algum, mas ainda assim consegue ser um jogo divertido e que tem cativado diversos fãs com o pouco tempo de vida que tem.
Então, qual é o segredo de Legends of Runeterra?
Convenhamos, jogos de cartas são ao mesmo tempo, a melhor e a pior coisa já inventada. Talvez tenham sido criados apenas para nos assistir sofrer na tensão de tirar cartas torcendo para que saia a que você precisa. A dependência da sorte é um fator crucial em qualquer carteado, e Legends of Runeterra não foge desta regra. Apesar disso, nos últimos anos pudemos ver um grande avanço e aumento na complexidade dos jogos de cartas graças a vários lançamentos que sempre agregam valor aos seguintes.
É muito raro ver um jogo novo chegar revitalizando todo o gênero. Na verdade, é possível dizer que este gênero não passa por uma revolução desta desde o lançamento de Hearthstone em 2014. O jogo da Blizzard mostrou que é possível criar um jogo de cartas altamente popular com apenas um toque de belos gráficos e graças ao meio virtual, ser capaz de fazer coisas incríveis que simplesmente não são possíveis com cartas reais.
De lá para cá houveram diversas tentativas de criar novos jogos de cartas que alcançassem este sucesso, alguns bons e outros nem tanto, mas nenhum pareceu realmente entender o que faz destes jogos o sucesso estrondoso que tem, e nem mesmo como superá-los.
Os jogos da Blizzard são sempre extremamente bem sucedidos porque eles são, por criação, bem lineares e simples o suficiente para qualquer pessoa aprender, enquanto ainda entregam complexidade pouco a pouco na medida do avanço de forma a manter o jogo sempre altamente competitivo. Combine isso com a tecnologia atual que não requere um PC de última geração ou um console para rodar um jogo belo e carregado de recursos e você terá um jogo carregado de personalidade, altamente capaz de cativar milhões.
Pode parecer simples, mas o que o próprio mercado já nos mostra é que acertar em todos estes aspectos é para poucos. Foi uma surpresa agradável ver que os mesmos criadores do super-competitivo League of Legends conseguiram criar um trabalho tão bem executado em Legends of Runeterra, um jogo com características tão distintas de seu irmão mais velho.
Legends of Runeterra já foi um jogo capaz de parecer algo genuinamente novo. O jogo compila décadas de designs e os transforma em algo familiar, mas altamente excitante.
Jogando Legends of Runeterra
O jogo tem as mesmas condições de vitória que você esperaria de um jogo do gênero: ou você reduz a vida de seu oponente a zero, ou tenta garantir que ele não tenha mais cartas para retirar.
Se você já jogou Hearthstone ou Magic the Gathering, você já irá achar Legends of Runeterra um jogo bem familiar. Se já jogou o clássico League of Legends, já poderá reconhecer os personagens também. Você está jogando cartas com o objetivo de destruir o Nexus de seu oponente. A cada turno, um jogador ataca e outro defende, enquanto este defensor pode escolher com quais cartas deseja defender.
A estratégia do jogo é baseada em fazer trocas inteligentes, jogar as cartas certas e utilizar os feitiços nos momentos mais essenciais. Uma vez que você conhecer bem seu deck e se familiarizar com a mecânica do jogo, estas decisões serão bem simples. Até mesmo automáticas.
Simples talvez não seja a palavra certa, já que o jogo oferece uma infinidade de possibilidades para a montagem de seu deck, mas ainda assim você conseguirá traçar seu próprio estilo e dominá-lo com certa facilidade. O ponto mais importante em Legends of Runeterra é que foi encontrado um excelente equilíbrio nas batalhas, de modo que você não irá sentir que perdeu uma batalha porque seu oponente tinha cartas muito melhores (na maioria das vezes). Ao invés disso, você terá que olhar para seu deck e definir estratégias para quebrar o ataque inimigo.
Isso é reforçado pelo deck de 40 cartas utilizado em Legends of Runeterra. Eles não são os primeiros a operar desta forma mas a maioria dos jogos atualmente utilizam decks de 60 cartas (como Magic: The Gathering, por exemplo). Este volume menor na verdade é um grande aliado para que você consiga executar melhor suas estratégias, já que desta forma você tem uma probabilidade maior de receber a carta que deseja ou precisa.
Falando em Magic: The Gathering, o caminhar de Legends of Runeterra se parece muito com o dele, com algumas inovações e simplificações. Agora, os jogadores possuem apenas um recurso para gerenciar, a Mana. Em Magic você já tem várias “cores” para gerenciar e elas seguem aumentando conforme você avança, por exemplo. Este é um exemplo dentre outros mais que deixaram o jogo mais simples e mais atrativo, especialmente para iniciantes no gênero.
Ainda assim, Legends of Runeterra ainda é bem mais complexo do que Hearthstone. Você pode jogar mais cartas durante o turno de seu oponente e responder às magias deles com magias suas. Este bate e volta e a corrente de eventos que ele causa é grande parte do que tornou Magic: The Gathering e Yu-Gi-Oh! em sensações no mundo dos games. Neste aspecto, Runeterra supera de longe os recursos de Hearthstone.
Obviamente, todos estes novos “movimentos” no jogo também o tornam mais difícil de dominar. A fantástica interface de Legends of Runeterra é carregada de pequenos toques para tornar tudo mais claro. As cartas que você joga são destacadas, selecionar uma carta já te mostra várias versões dela e diferentes efeitos que ela pode produzir, e muito mais. Além disso, há também uma aba de ajuda que esclarecerá todas as dificuldades de jogadores iniciantes.
Você tem a opção de tocar em um “olho do oráculo” à esquerda do tabuleiro a qualquer momento para te mostrar uma visualização prévia de como uma determinada série de eventos irá se resolver. Quais criaturas morrerão ou serão removidas, quanto dano foi causado, e daí em diante. Todos os efeitos ou magias formam uma simples corrente da esquerda para a direita ao centro do tabuleiro com sinalizações de seus alvos.
Todo turno gera mana para você, assim como em Hearthstone, com a diferença que três manas que não forem utilizadas ao fim do turno podem ser salvas para feitiços no próximo turno. Isso ajuda a eliminar a frustração nos momentos em que você não consegue executar nada nos primeiros turnos do jogo e permite uma utilização avassaladora de sua mana mais à frente.
Aqui já entramos no sistema de combate de Legends of Runeterra. As unidades podem atacar e defender. Em alguns casos você pode escolher atacar um oponente específico mas na maior parte das vezes, assim como em Magic: The Gathering, é seu oponente que irá escolher quem irá receber o dano. Qualquer dano que não for bloqueado causa dano ao Nexus, e os 20 pontos de vida que você começa não irão parecer muito após alguns ataques bem executados.
Você e seu oponente se revezam em turnos para atacar, mas você poderá jogar unidades e pegar uma carta todo turno, mesmo que não seja sua vez de atacar. Isso não só torna o jogo mais rápido e dinâmico, mas também permite que cada jogador execute sua estratégia de jogo mais cedo, fazendo toda a experiência mais divertida.
Com isso, você pode facilmente traçar seu caminho para a vitória com um deck iniciante de aranhas ou pode decidir tentar algo mais diversificado até definir seu deck de controle.
Os tutoriais do jogo também foram muito bem elaborados e facilitam muito a vida do jogador. Cada um estabelece um desafio específico contra um oponente de inteligência artificial com alguma condição específica para a vitória. Na maioria das vezes, um pequeno “quebra-cabeças” fácil de se resolver e que mostra ao jogador a estratégia ideal para utilizar determinado recurso ou habilidade de suas cartas.
A forma que Legends of Runeterra apresenta seus tutoriais é realmente algo que não se vê todos os dias. O jogo contextualiza suas dicas e faz com que o próprio jogador assuma o volante e descubra por conta própria a solução. Dali em diante, esta é uma estratégia dele. E o melhor de tudo isso: fazer isso sem atrapalhar o ritmo do jogo, com tutoriais simples e fáceis, que incluem também a possibilidade de pular eles a qualquer momento.
Se você não é um fã de League of Legends, não se preocupe. Não é preciso conhecer os personagens ou nenhum enredo para poder curtir Legends of Runeterra tranquilamente. As artes das cartas e animações dos feitiços são ótimas, o jogo tem diálogos bem interessantes e interativos e grandes animações que já dão a Runeterra sua própria personalidade. Assim como Hearthstone introduziu o mundo de World of Warcraft para todo um novo grupo de jogadores, Legends of Runeterra vêm para fazer o mesmo por League of Legends, levando a história construída ao longo da última década para uma nova (e enorme) gama de jogadores.
A economia de Legends of Runeterra se diferencia de seus semelhantes de forma extremamente positiva ao ser verdadeiramente free-to-play (grátis para jogar). Muitos jogos de cartas como Stormbound e Hearthstone alegam ser gratuitos mas irão te oferecer anúncios a todo momento e o jogo chega a um ponto em que é impossível seguir avançando sem pôr a mão no bolso. Graças ao sistema de missões e recompensas semanais de Runeterra, você terá um fluxo constante de cartas novas entrando a todo momento.
Ainda que você não precise investir dinheiro em Legends of Runeterra, você pode investir um pouco para acelerar seu jogo se quiser. Diante dos demais jogos de cartas mobile, Runeterra é provavelmente o que possui o melhor equilíbrio neste sentido.
Além de tudo isso, Legends of Runeterra é um jogo realmente divertido. Os gráficos são bem agradáveis aos olhos, o áudio é excelente e a montagem dos decks é tão simples jogando no PC quanto no mobile. Você pode expandir suas estratégias em uma séria de diferentes decks com estilos e estratégias totalmente diferentes e equilibradas. Todos os decks também são introduzidos por uma série de tutoriais que são simples o suficiente para cumprirem seu objetivo e te ajudar a massacrar seus oponentes o mais breve possível com as novas estratégias.
O jogo também traz a oportunidade de testar seus decks jogando contra a máquina no modo Expedição, que basicamente deixa que você monte um deck e vá adaptando ele na medida que desejar. Graças a isso você tem um jogo de cartas que não te exige nada, mas te entrega tudo o que precisa para praticar, testas estratégias e montar seu deck perfeito.
Apesar de todas estas vantagens, Legends of Runeterra acaba não sustentando certos “jogos mentais” que fazem vários jogos de cartas tão excitantes. Em Artifact, por exemplo, distribuir seus heróis e focar suas energias em áreas específicas pode fazer toda a diferença quando você e seu oponente travam esta batalha indo e voltando, um tentando quebrar a estratégia do outro enquanto mantém a sua ativa.
Comparado a um jogo de cartas real como Android Netrunner, onde você pode induzir seu oponente a armadilhas e becos sem saída, Legends of Runeterra se apresenta com uma proposta bem diferente, talvez um pouco mais vazia neste sentido.
Considerações finais
Legends of Runeterra talvez seja o jogo de cartas mobile mais acessível hoje. Ele combina excelentes visuais com ricos personagens e fantásticas mecânicas que fazem toda interação do jogo uma diversão à parte. Ele também merece o altíssimo respeito de ser muito mais generoso com seus jogadores do que seus concorrentes, permitindo que você jogue à vontade sem que tenha que gastar nenhum centavo sequer.
O jogo traz diversas inovações de seus concorrentes e antecessores, dando novos caminhos para o gênero e garantindo seu espaço entre os grandes. Os jogadores de LoL certamente terão sua diversão garantida revendo os clássicos heróis, e novos jogadores podem aproveitar do jogo na mesma proporção.